Você provavelmente já ouviu falar em Bitcoin, a criptomoeda que tornou famoso o blockchain, mas você sabe o verdadeiro conceito e potencial dessa inovação? 

O blockchain é uma tecnologia de base de dados distribuída em servidores, referida por Satoshi Nakamoto originalmente, no artigo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”. Uma nova adição à base na qual você tem acesso, ou nó (node), será compartilhada com todos os outros nós – onde cada um faz a verificação da legitimidade da informação inserida –, por meio de blocos, formando, assim, um livro de registros, que apenas pode adicionar-se novos blocos de informação,  nunca excluindo os já registrados.

A linha que separa, principalmente, o blockchain de uma outra base de dados é que ela é sequencialmente conectada e encriptada – um conjunto de blocos sólidos de informações imutáveis, uma vez que atualizados. Por ser um banco de dados compartilhado com as informações armazenadas em diferentes locais e necessitar das verificações para inserção de novos dados, a chance de perdas diminui, aumenta a segurança e a confiabilidade dos dados, garantindo uma maior acuracidade em diversos processos.

Dentro da ideia de Blockchain, podemos citar dois tipos de rede: públicas e privadas. Na primeira, todos possuem acesso a ela de forma confidencial como por exemplo com as criptomoedas, onde qualquer pessoa pode participar do seu processo de mineração cedendo um pouco da capacidade de processamento de seu computador e se torna também mais um ponto de validação das informações. Na segunda, essa verificação é feita pelo organizador da rede, sendo mais barata, porém menos segura e adequada para soluções específicas dentro de uma operação ou mercado. Entenda mais sobre o assunto neste artigo da IBM.

No Brasil, o Governo Federal incluiu a tecnologia no seu processo de transformação digital – governo digital – como ferramenta para a criação de soluções inovadoras no setor público, objetivando a promoção de segurança, transparência e modernização. Uma das metamorfoses foi no bConnect, onde as trocas de dados entre os países do Mercosul passaram de envio por e-mails, para acordos via contratos inteligentes (smart contracts). 

Sabendo-se  das vantagens que o uso do blockchain traz (segurança, imutabilidade, traceabilidade, transparência, agilidade), adentramos nas oportunidades de utilização dentro da gestão logística. Para isso, consideremos o cenário da cadeia de suprimentos global da soja.

O Brasil é o maior produtor de soja do mundo, seguido pelos Estados Unidos, alcançando a marca de 124,845 milhões de toneladas segundo a  Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Confira a série histórica da produção do grão no país:

Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento

A partir de 2003, o governo brasileiro autorizou a produção de soja geneticamente modificada (GM) e consequentemente sua comercialização. Isso fez com que a produção brasileira aumentasse expressivamente, superando os Estados Unidos no comércio mundial de soja pela primeira vez em 2013. Ao mesmo passo que a demanda por alimento aumentou, a produção de soja GM também e hoje existe um debate relacionado à segurança alimentar envolvendo produtos GM em que cada vez mais a população quer estar ciente daquilo que consome. 

“Pelas tendências de consumo dos países membros da UE, é provável que a proteína animal brasileira destinada à UE terá de seguir os padrões estabelecidos pelas redes de varejo, sensíveis aos desejos de seus clientes e, portanto, produzidos cada vez mais com ração animal sem ingredientes GM.” (BRAZILIAN JOURNAL OF DEVELOPMENT) Mas como podemos garantir com segurança a origem dessa soja? Aí que o blockchain entra em ação. A traceabilidade que ele oferece poderia garantir a origem da soja através de todos os elos da cadeia de suprimentos, desde o campo até o porto, até a Europa e os seus clientes finais. Caso for comprovada alguma contaminação, fica muito mais fácil identificar em qual parte do processo o erro aconteceu e quem foi o responsável.

O Japão, que é um país que com sua dieta rica em produtos a base de soja, possui uma população muito exigente, comprando apenas a soja geneticamente não modificada (GNM), tanto para o consumo humano quanto para a produção de ração animal. Na Suíça, toda alimentação do gado leiteiro é isenta de soja GM. Em países da UE, grande redes de supermercado oferecem uma gama de produtos que não utilizam soja GM, atendendo à demanda de seus consumidores.

Outro exemplo do uso do Blockchain na cadeia global é pela Nestlé, através da IBM Food Trust que monitora a rota do café da América Latina para a Suécia, permitindo aos consumidores rastrear o exato local de origem, as rotas de transporte, até mesmo o tempo de torrefação.

Apesar da popularização, o uso por parte das organizações ainda é um desafio, sendo necessário um grande esforço para implementarem em sua cadeia de suprimentos, além de alto custo e mão de obra especializada. Como ficam claros os seus desafios neste artigo.

Quando pensamos na utilização do blockchain em uma cadeia de suprimentos, são diversas empresas que precisam fazer uso correto desta tecnologia. Portanto, é importante que as organizações se ajudem e percebam as vantagens da sua utilização. Normalmente as empresas do varejo que hoje têm um poder gravitacional sobre seus fornecedores, são as facilitadoras deste processo de adoção. Algumas como IBM, Microsoft e Ethereum, concentram muitas das ações de implementação. A cada momento, surgem startups que inovam e trazem avanços ao setor. Além disso, a utilização de redes públicas como a Etherium e Stellar, ainda são bastante caras, o que limita os usos. 

A dificuldade na procura por talentos também é um desafio. São poucas instituições que fornecem alguma formação em blockchain. Universidades como MIT e Stanford possuem departamentos para o desenvolvimento de profissionais nessa área e empresas como IBM, Google, Amazon e Ant Financial; buscam parcerias com elas para o desenvolvimento de talentos no setor.  

Além da pesquisa que abre novas portas para o uso da tecnologia, melhores condições de aplicação são necessárias. É de todo modo imprescindível a digitalização total da empresa, pois para o uso do blockchain, diversas informações precisarão ser automaticamente colocadas nas bases de dados. Por isso, o uso do blockchain cria diversas vantagens secundárias ao impulsionar a empresa por esse caminho, como a melhor utilização de seus dados e a capacidade de assegurar a qualidade de processos (IBM Blockchain, 2020). Portanto estes dados têm que ficar disponíveis por meio de acesso às redes, usando de Internet das Coisas (Iot), para que não haja nenhuma modificação e garanta a automatização dos processos. 

Todo o esforço sendo realizado para a consolidação do blockchain não é em vão, pois as possibilidades são inúmeras e empolgantes. O uso dessa tecnologia na logística pode trazer maior controle e confiabilidade para todos os envolvidos na cadeia de suprimentos, inclusive para o consumidor, de acordo com Jason Lopatecki,  diretor de inovação da Adobe, suficiente para consumirmos com consciência sobre fatores como a origem sustentável dos produtos que compramos.

Assim, o blockchain se mostra não só como mais um nova tecnologia a ser popularizada no mercado, mas também como um salto de desenvolvimento de como compramos, de como gerimos e de como lidamos com as informações hoje. 

Para saber mais sobre blockchain recomendamos estes sites:

CoinTelegraph

Blockchain MIT

Ecommerce Brasil

Recomendamos também a série de webinars da IBM, BlockParty.


Autores: Diego Moretto Trentin, Gaia Rutowitsch Rodrigues Silveira, Rodrigo Bastos Schappo e Samir Capistrano Filho


O GELOG – Grupo de Estudos Logísticos é dedicado à formação de futuros profissionais especialistas em logística através da capacitação teórica e prática, como a escrita de artigos, a realização de treinamentos internos e externos e projetos e visitas técnicas junto à empresas parceiras. O Gelog está sediado há mais de 15 anos no Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e está sob orientação do professor Carlos Manoel Taboada Rodriguez, Ph.D.


REFERÊNCIAS

ABOU JAOUDE, Joe; SAADE, Raafat George. Blockchain applications–usage in different domains. IEEE Access, v. 7, p. 45360-45381, 2019.

IBM Blockchain. CUOMO, Jerry. 2020.

HARVEY, Cynthia. Blockchain’s Future: Nine Predictions. Datamation. 19 de julho de 2017. Disponível em: <https://www.datamation.com/applications/blockchains-future-nine-predictions.htm>. Acesso em 5 de outubro de 2020.

(IBM Blockchain. The difference between public and private blockchain. Praveen Jayachandran, 2017. Disponível em: <https://www.ibm.com/blogs/blockchain/2017/05/the-difference-between-public-and-private-blockchain/>.

THADANI, Ramesh Mohan; ROCHA, Augusto César Barreto. A opção do produtor Brasileiro produzir soja não geneticamente modificada pode ser uma vantagem estratégica/The Brazilian producer’s option to produce non-genetically modified soybeans may be a strategic advantage. Brazilian Journal of Development, v. 5, n. 7, p. 9969-9994, 2019.

Conab. Acompanhamento da Safra Brasileira. Disponível em: <https://www.conab.gov.br/info-agro/safras>.

IBM Blockchain. Nestlé usa IBM Blockchain para monitorar rota do café da América Latina para a Suécia.  <https://www.ibm.com/blogs/ibm-comunica/nestle-usa-ibm-blockchain-para-monitorar-rota-do-cafe-da-america-latina-para-suecia/>

IBM Blockchain. IBM Food Trust. Disponível em:  <https://www.ibm.com/br-pt/blockchain/solutions/food-trust>

Smart Contracts: entenda o que são e como funcionam

<https://blog.bitcointrade.com.br/smart-contract/>